terça-feira, dezembro 27, 2005

quero sua boca..em mim..


me beija agora..
me beija até o fim..
me beija sempre..
mas beija sem sair de mim..

a próxima vezque quiser
ler meu pensamento

vai ver uma
coisaletras soltas

páginas
rasgadas

capítulos sem
fim

vírgulas
loucas

surpresas e
suspiros

tigres de papel
caras de nanquim

só mais uma
coisa

já que você vai mesmo ver
alguma

que tal
olhar pro céu

em vez de olhar pra mim ?

p leminski
84

Jean Baudrillard, pensador francês.

"Sou um dissidente da verdade. Não creio na idéia de discurso de verdade, de uma realidade única e inquestionável. Desenvolvo uma teoria irônica que tem por fim formular hipóteses. Estas podem ajudar a revelar aspectos impensáveis. Procuro refletir por caminhos oblíquos. Lanço mão de fragmentos, não de textos unificados por uma lógica rigorosa. Nesse raciocínio, o paradoxo é mais importante que o discurso linear. Para simplificar, examino a vida que acontece no momento, como um fotógrafo. Aliás, sou um fotógrafo". [2003]

--ce moi ?

Charles Chaplin, (1889-1977). Comediante e cineasta anglo-americano. [

A vida é maravilhosa quando não se tem medo dela.

Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror. Os bons filmes constituem uma linguagem internacional, respondem às necessidades que os homens têm de alegria, de piedade e de compreensão. São um meio de dissipar a onda de angústia e de medo que invade o mundo de hoje... Se pudéssemos pelo menos trocar entre as nações em grande quantidade os filmes que não constituem uma propaganda agressiva, mas que falam a linguagem simples dos homens e das mulheres simples... isso poderia contribuir para salvar o mundo do desastre.
Estou sempre alegre, essa é a minha maneira de resolver os problemas da vida. Tenho a impressão de que as pessoas estão perdendo o dom do riso.


Eu continuo sendo apenas um palhaço, o que já me coloca em nível bem mais alto do que o de qualquer político.
Não sou político; sou principalmente um individualista. Creio na liberdade; nisso se resume a minha política... Sou pelos homens; essa é a minha natureza.
O apelo da época é mais para a fraternidade do que para a caridade. Se uma existe a outra se seguirá; ou, ainda melhor, não será necessária.


Sou um defensor da liberdade, da justiça e da verdade. Certamente não pretendo fazer nenhuma revolução, não é a minha vocação. Sou a favor do povo.

Todo megalomaníaco, no fundo, é um bebê grande.

Maiakovski

O AmorUm dia, quem sabe, ela, que também gostava de bichos, apareça numa
alameda do zôo, sorridente, tal como agora está no retrato sobre a mesa. Ela é
tão bela, que, por certo, hão de ressuscitá-la. Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame de mil nadas, que dilaceravam o coração. Então, de todo
amor não terminado seremos pagos em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me, nem que seja só porque te esperava como um poeta, repelindo o
absurdo quotidiano! Ressuscita-me, nem que seja só por isso! Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe! Para que o amor não seja mais escravo de
casamentos, concupiscência, salários. Para que, maldizendo os leitos, saltando
dos coxins, o amor se vá pelo universo inteiro. Para que o dia, que o sofrimento
degrada, não vos seja chorado, mendigado. E que, ao primeiro apelo: - Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira. Para viver livre dos nichos das casas. Para que
doravante a família seja o pai, pelo menos o Universo; a mãe, pelo menos a
Terra.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Minha MeNINA..

A peça "Tua mão na minha" aborda a relação do escritor russo com a atriz Olga Knipper, sua mulher

Anton Tchekov, Peter Brook, Michel Piccoli. Um único dos três nomes já seria suficiente para justificar a ida ao teatro. Os três reunidos são a garantia de momentos de deleite puro, de epifania que a relação platéia-atores pode criar.

"Tua Mão na Minha" -peça de Carol Rocamora a partir da correspondência entre Anton Tchekov e Olga Knipper, atriz alemã que se tornou mulher do dramaturgo- é um encontro marcado entre três grandes artistas do palco. Sim, porque Piccoli sempre alternou o cinema com o teatro, fundamental na sua vida.

Premiado tanto nos palcos como no cinema, Piccoli transformou-se num ícone entre os atores franceses. E a presença de Natasha Parry, mulher de Peter Brook, uma Olga extraordinária, transforma o trio excepcional em quarteto. O resultado é evidente : uma hora e meia de grande teatro que os privilegiados espectadores assistem no Théâtre des Bouffes du Nord, em Paris, inaugurado em 1875, com o nome de Théâtre Molière.

O inglês Peter Brook fundou em Paris, em 1973, o CICT (Centre International de Création Théâtrale) e se instalou no Théâtre des Bouffes du Nord no ano seguinte, com "Timon de Atenas", de Shakespeare. Entre as dezenas de peças que ele encenou no seu teatro, "A Cerejeira", de Tchekov, tinha Piccoli e Natasha Parry. Ela vivia Lioubov, o papel que Tchekov criara para Olga.

Agora, o quarteto Piccoli-Tchekov-Brook-Parry volta ao semi-círculo do teatro, restaurado com extremo bom-gosto para abrigar a companhia de Brook. A opção da restauração, um achado, foi deixar aparente o trabalho do tempo nas paredes e nas pilastras. Só o ambiente do teatro já vale o ingresso. Mas o bom é que tem muito mais.

Olga encontrou Tchekov quando tinha 29 anos. Ele tinha 38 anos.
"_ Ela era atriz.
_ E se encontraram. Como se conheceram ?
_ Foi numa leitura, numa leitura de 'A Gaivota'.
_ Sim, 'A Gaivota', abril de 1898, você se lembra? 'Meu amor, você é a última página da minha vida.' Como gostei de dizer essa frase! Minha preferida!"


Se Piccoli e Natasha são bem mais velhos que seus personagens, que importância isso tem? Os grandes atores não têm idade, a emoção e o talento não estão subordinados ao tempo.

Dentro de um cenário de uma simplicidade franciscana, os dois evoluem num jogo dramático em que o texto conta mais que os mirabolantes jogos de cena. Discreto, o cenário consta de apenas três cadeiras, uma escrivaninha e um tapete.

O semi-círculo do palco do Bouffes du Nord onde se passa toda a peça fica na altura dos espectadores da platéia, sem nem mesmo um tablado a separá-los. Nem quando mudam de cidade, o cenário muda.

A minimalista encenação de Peter Brook conta com a imaginação dos espectadores, que ouvem a troca de confidências e emoções, em cartas que iam e vinham pelo correio, num tempo distante em que elas eternizavam os amores e as paixões. Com a implantação do telefone, o hábito de escrever cartas foi começando a morrer. O golpe fatal foi dado pela internet.

Piccoli e Natasha Parry vestem a mesma roupa do início ao fim da peça. Ela usa uma blusa branca e uma saia preta longa que poderiam ter sido usadas por Olga, mas que hoje ainda não parece uma roupa "démodé". Essa mesma opção de um costume atemporal foi feita para Piccoli.

O ator é de uma elegância impecável, num terno bege e camisa da mesma cor. Ele calça uma bota curta bege. Nada em seu figurino é muito marcadamente moderno, mas também não tão datado ao ponto de ele não poder sair do teatro com a mesma roupa.

Tchekov e Olga viveram seis anos juntos. A relação foi interrompida pela morte do escritor, em 2 de julho de 1904. As separações constantes eram dolorosas para ambos. Eles compensavam a distância escrevendo cartas. Olga precisava estar em Moscou, sempre envolvida com novos espetáculos, seu mundo, o dos atores, diretores e autores de teatro. O escritor, tuberculoso, não suportava o frio intenso de Moscou. Vivia sozinho em sua casa de Ialta, onde a atriz vinha encontrá-lo sempre, para descansar ou seguir viagem de tratamento ou trabalho: Paris, Berlim, Nice e Badenweiler, onde finalmente a tuberculose o venceu.

Olga trabalhava na companhia de um jovem diretor de teatro chamado Konstantin Stanislavski. A última peça de Tchekov, "A Cerejeira", foi escrita justamente na casa de campo de Stanislavski, em 1904. Tchekov, médico de formação, Stalislavski, Gorki e Rachmaninov formavam um grupo de amigos que se freqüentavam, muitas vezes trabalhando juntos, num período de extraordinária criação artística na Rússia imperial.

O escritor e sua atriz, para quem ele criou o papel de Macha na peça "As Três Irmãs », trocam nas cartas impressões sobre a arte, contam os encontros e relatam os pequenos momentos do cotidiano, vã tentativa de vencer a distância. Tchekov trata sua mulher de "minha cadelinha", "minha pequena bêbada". Sutil e low profile, Piccoli não tenta sobrepor-se ao personagem. Nada em sua atuação é excessivo.

Tchekov estava minado pela doença, mas não perde o senso de humor característico de seus primeiros trabalhos, os contos humorísticos. Suas peças e seus contos revelam o alegre melancólico que ele era. E Piccoli encontrou o tom justo para esse personagem, que se sabe condenado pela doença, mas não perde a alegria de viver.

Piccoli disse certa vez que não tem nenhuma angústia da morte, mesmo se essa idéia de desaparecer o deixa muito triste. Talvez essa sua leveza em relação à morte tenha sido fundamental para construir seu personagem, um homem que se apaga aos poucos.

Ao partir para sempre, dirigindo-se a Olga, Tchekov responde com uma pergunta à sua interrogação sobre o sentido da vida :

"Qual é o sentido?".


----"Uma comédia, três papéis de mulher, seis para homens, quatro actos, uma paisagem (vista para um lago), muitas conversas sobre a literatura, um pouco de acção, um toque de amor".

vontade de..

vontade de beijar a sua boca..
só isso que eu sei..

e que enquanto digito..
frases soltas no micro..
é por que penso em vc..

e escrevendo..
nosso diálogo mudo..
te digo coisas..
que não saberia..

te escrevo as cenas..
as falas as pausas..
e até as respirações..
o palco agora é nossa cama..
o cenário nossos corações..
a trilha sonora..
gemidos tão intensos..
que talvez a platéia se constranja..

não importa..
na minha estréia..
só vai dar vc..

e eu vou beijar a sua boca..
eu vou beijar de novo..
e de novo até cansar..

existe coisa melhor meu deus..
que ter uma mulher bonita..
com boca boa para namorar ?

obrigadim meu padim..

doce dezembro..


como é doce o vento que venta em dezembro..
trazendo na força a leveza de um beijo..
trazendo no tempo as tempestades e os verões..

já é calor na alma..na cama..nela que diz que me ama..
e chora todo dia quando me deixa na cama..e vai trabalhar..

como é rápido o mês de dezembro..algo no limiar..
de que toda a tristeza já passou..que o futuro ainda vai brilhar..
de que muitos sorrisos para se compartilhar..




meu dezembro foi assim..
supreendentemente minhas preces..
foram atendidas e meu medo crescente..
de que aquela menina me fizesse doente..
rapidamente se anuviou..

vc apareceu do nada..
vc apareceu levada..
vc simplesmente apareceu..

eu eu tava ali parada..
esperando no meio da praça..
e ventava na minha cabeça..
nas minhas idéias..
nos fios do meu cabelo..

foi ai que vc sorriu..
sorriu e me acariciou..
como um cachorro fiel..
e eu te olhei nos olhos..
levantando levemente..
meu pescoço..
e vc era linda..

era inteira..
era minha..
e era só dezembro..

teríamos um ano inteiro..